Em uma reviravolta surpreendente, a indústria global de tecnologia enfrenta uma crise de metais raros à medida que as restrições estratégicas de exportação da China sobre o gálio, um componente essencial para a fabricação de chips, provocam ondas de choque na cadeia de suprimentos. Nos últimos dezessete dias, os preços do gálio dispararam impressionantes 50%, desencadeando uma corrida frenética por fontes e tecnologias alternativas. Esse movimento sem precedentes da China ressalta a influência substancial do país no setor tecnológico e deixa os principais players lidando com possíveis repercussões.
O gálio, muitas vezes negligenciado mas indispensável, emergiu como um ponto crucial na fabricação de chips, especialmente em seus compostos, arseneto de gálio (GaAs) e nitreto de gálio (GaN). A situação é exacerbada pelo controle rígido da China sobre a produção de gálio; o país detém impressionantes 80% da produção mundial, concedendo-lhe uma alavancagem significativa nas dinâmicas tecnológicas globais. À medida que as tensões entre os EUA e a China continuam a ferver, esse movimento é interpretado por muitos como uma jogada estratégica na contínua luta pelo poder econômico entre os dois gigantes.
De acordo com relatórios recentes da Bloomberg, o aumento repentino nos preços do gálio fez com que o material alcançasse um pico de 10 meses de $400 por quilograma. Esse aumento inesperado coloca uma pressão significativa sobre os fabricantes de chips e empresas que dependem do gálio para designs semicondutores de alto desempenho. Para contextualizar, esse ponto de preço contrasta fortemente com o metal de silício de alta pureza, que custa apenas $2 por quilograma, destacando o pesado impacto que esse aumento de preços pode ter na indústria.
O epicentro do refino do gálio está predominantemente confinado à China e ao Japão, com uma única instalação tentando manter a posição na Europa. No entanto, a produção da instalação europeia é uma gota no oceano quando comparada à demanda crescente do continente. Consequentemente, nações não produtoras ficam sem opção a não ser importar gálio ou wafers de arseneto de gálio processado, o que aumenta ainda mais a pressão sobre as cadeias de suprimento globais.
As restrições de exportação impostas pela China complicaram ainda mais a situação, exigindo que entidades baseadas nos EUA naveguem por um processo complexo de registro junto ao Ministério do Comércio da China. Embora esse requisito não seja totalmente incomum, o timing foi o que pegou muitos de surpresa. As empresas só puderam iniciar as solicitações de licença a partir de 1º de agosto, no mesmo dia em que as restrições de exportação entraram em vigor. Com as licenças podendo levar até 45 dias para serem obtidas, o processo efetivamente introduziu uma taxa de atrito na equação. Somado ao curto prazo de aviso das restrições (anunciadas no início de julho), o cenário estava montado para o golpe disruptivo da China.
As repercussões dessa manobra são de longo alcance, especialmente para as capacidades de fabricação de chips dos EUA. Embora o gálio venha da China durante a extração, o atraso significativo dos EUA (uma lacuna de cinco gerações) no desenvolvimento de microeletrônica de ponta reduz as oportunidades de aproveitar as propriedades únicas do gálio. Enquanto isso, as restrições de exportação da China posicionam o país para acumular reservas de gálio, prontas para serem utilizadas assim que sua tecnologia de fabricação de chips estiver alinhada.
Crédito da foto: Nick Fewings